sábado, 5 de dezembro de 2009

Baixo Gloria

Locação da Gloria.
Mais uma triste historia.
Da miséria humana, a escoria.

Nos pútridos becos da vida,
prostrada na suja avenida,
há gente ansiosa de comida.

Para alma e estômago, as drogas.
Podem-se avistar dispersas hordas,
espalhadas em imundas bordas.

Tudo é visceralmente assustador.
A real beira o horror.
Não há nada, não há cor.

Conseguem viver de forma obscura.
Sequer sabem onde está a cura.
Acho que ela nem procura.

A passagem para o dia é escabrosa.
Restos humanos estão surgindo.
Caem de maneira tenebrosa.
Noite que uivava, agora urgindo.
A situação grita, escandalosa
para um bêbado que vem vindo.
Amanheceu e a levada é dolorosa.
Para sempre os preterindo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

Desde sempre

Conheço você há tanto tempo.
Em minha vida, sempre visível.
Eu sem você, nem lembro.
Será que é possível?

Tudo começou com um encontro:
nem breve, nem demorado.
Ah! Não repara! Dá um desconto!
Como vou saber o instante esperado?

Bem, até que um se tornou nós.
Um amor que nasceu de longe.
Barreiras quase formaram o algoz,
mas ainda bem que tenho paciência
de monge.

Quando nos vimos, amor à primeira vista,
você veio correndo me encontrar.
Nem precisou de conquista.
Seu coração já era meu lugar.

Tempo passando, vieram as crises.
Contrariando a lógica, o amor crescia.
Discussões, separações, deslizes.
Às vezes, tudo se repetia.

Gentilmente ela nos ligou.
Almas gêmeas, que estavam por aí.
Em nossa trajetória, ficou.
E acabou nos dando raiz.

Política, trabalho, amor, coisas da vida.
Você e eu temos tanto o que falar.
Não percebiámos o final do dia.
Esta era nossa forma de amar.

Só uma coisa tenho a dizer:
na minha história, o destaque é você.
Pois é seu meu incondicional, intenso,
eterno e motivador
Amor.

sábado, 31 de outubro de 2009

Se Não Somos

Se fôssemos amigos,
conversaríamos mais
decentemente,
visualmente.

Se fôssemos amantes,
deleitar-nos-íamos mais
com nossas peles
e mentes.

Se fôssemos amigos,
ouvir-nos-íamos mais,
aprendendo a dividir
e unir.

Se fôssemos amantes,
eu poderia sentir sua voz
não só nos meus ouvidos,
mas também em minhas
lembranças.

Se fôssemos amigos
dividiríamos umas cervejas.
Filaríamos cigarro
um do outro.

Se fôssemos amantes,
ousaria ansiar por
sua presença,
deixando o desejo livre para
nascer, crescer e ser saciado.

Se fôssemos amigos,
conversar sobre nossos amantes
queridos
não seria tabu e invasivo.

Se fôssemos amantes,
as palavras sacanas
de nossas mensagens instantâneas
ganhariam vida própria;
não ficariam escondidas sob a
frieza de uma tela.

Se fôssemos amigos,
eu poderia te ligar
para falar coisas sem sentido,
para te dar um OLÁ
e escutar um “tudo bem?”

Se fôssemos amantes,
você não colocaria as
paranóias de
homem-decente-que-quer-mas-
-não-pode-me-desejar.

Se fôssemos amigos,
seríamos mais sinceros
um com o outro.
Não teríamos medo de expor
o que sentimos.

Se fôssemos amantes
palpitaríamos de fato e
não haveria os demasiados
“eu faria” e “eu colocaria”.

É...
Não somos amigos.
Não somos amantes.
Somos um par de conhecidos
que foram colocados
estranhamente
em um mesmo
quarteirão.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Volver

Demoro uma semana para escrever sobre Mercedes Sosa. Estou ouvindo-a, cantando "Che Guevara". Suas músicas - muitas poesias cantadas, a bem da verdade - sempre exerceram uma força estranha em mim, uma sensação de pertencimento a algo que não entendia. Conheci sua voz muito cedo.

Sinto, desde que me lembro como ouvinte, uma gostosa identificação com a interpretação e as temáticas presentes no cancioneiro de Mercedes, ainda mais sendo filha de uma pessoa inacreditável que é J.F. Sem querer, sem forçar e sem doutrinar, era um tal de ouvir Mercedes cantando, de aprender a conhecer nossa América... “Conversemos sobre o que é ser socialista...” Uma delícia.

É por isso que os meus olhos marejam quando escuto La Negra cantando sobre o encantamento de Violeta Parra com os estudantes de tempos agora distantes. Tá. Pode parecer uma tremenda pieguice, mas é como se, de alguma forma este encantamento me invadisse também. Assim como o prazer de escutar uma argentina, em uma língua que me desperta enorme carinho, cantar a beleza de voltar a se sentir profundo como um menino diante de Deus (ah, Violeta!). Depois dessa, despeço-me; não sei mais como externar minha emoção diante de tamanha voz e coração. Desde sempre.

sábado, 3 de outubro de 2009

Menino-moço-homem

Sábado de nuvens e amigos.
Metrô de homens, mulheres, crianças, sacolas.

De amarelo eu estava e logo o vi.
Ele também de amarelo.
Misto de menino e homem:
olhos de menino, boca de menino,
pelos de homem.

Olhos enormes e castanhos
que devoram-me gentilmente.
Buscam-me a cada movimento que faço.
Sorriem-me.

Zona sul, Centro...
Destinos diferentes.
Poucos e suficientes minutos.
Apaixonei-me?

terça-feira, 23 de junho de 2009

Um dia....

Quando.... Esta palavra é carregada de significado (ao menos para mim): denota possibilidade e o tempo de alguma coisa acontecer. Mas o quê? Aí é que reside a armadilha.
Falamos muito "quando eu arranjar aquele emprego", "quando eu encontrar aquela pessoa especial", e colocamos em um tempo, que às vezes não tem a menor pressa de passar, uma grande responsabilidade. Acreditamos que algo de arrebatador está sempre à espreita, esperando o tempo certo de nos golpear e nos tirar de uma pasmaceira qualquer. Mas... O que é tão arrebatador assim que ousa em nos deixar aflitos e com uma ansiedade tão esquisita que chega a turvar nossa visão de presente? Bingo! Não sabemos! Não temos ideia!
O depósito de esperança na conta do quando e do amanhã parece muito libertador em uma primeira olhadela. No entanto, o quando não chega, o amanhã não traz algo que de fato nos coloque de quatro e o monstro da ansiedade volta a crescer. A energia para agir e sentir acaba se esvaindo na viagem de esperar: aquela pessoa, aquela promoção, aquele, aquele, sei lá o quê. A mania de planejar compulsivamente cada passo não tem nada de libertador. Nada. Pode servir para não nos colocar em apuros de escala astronômica (opa, mas a vida em si já é um troço perigoso... enfim...), mas nos paralisa e trava a coisa toda. E o pior: é contagioso. Quem nunca levou um balde de água fria ao compartilhar com um querido que decidiu casar, que vai ter um filho, que vai mudar de cidade, de profissão? Todos já devem ter tido contato com este agente infeccioso ou ter transmitido o dito-cujo a alguém.
O arrebatador não é arrebatador se tiver hora e lugar marcados; se precisar de um "quando" para se tornar realidade e nos fazer sucumbir, promovendo mudanças loucas em nossas vidas. Muitas coisas extraordinárias simplesmente nos cutucam (quase o tempo todo), mas por estarmos tão preocupados com o nosso umbigo - que nunca sai do lugar - não conseguimos ver o quão especiais elas podem se tornar. Não dá para projetar a todo instante o instante seguinte cujo tempo simplesmente não existe. Tudo vai acontecendo de uma maneira tão deliciosa que nós, da espécie humana - cada vez mais desabituados em crer no bom se configurando perante nossa reles visão - não nos permitimos jogar para AGORA nossos sonhos.
Meu quando é toda hora.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Orçamento

Tempo de crise.
Corte de gastos.
Entro com um pé atrás. Perdulária...

Não. Não dá mais. Corto sim:
amor para quem não sabe ser amado;
gentileza para os cavalgas-duras;
sonhos para quem não ousa fechar os olhos
e só enxerga em preto e branco;
escrever para quem não quer saber;
pousar as asas em quem só anda
com passos de chumbo.

Mas irmão, não economizo:
sorrisos para quem ri e para quem não ri;
esperança em todos os homens;
fé no repartir,
com igualdade,
alimento para a mente e para o espírito;
nos sentimentos que me erguem todos os dias.


Renovação do orçamento!
Revolução!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Balanço

Animais correndo revoltos...
Têm a franqueza de uma criança,
a perversidade da maturidade
e o prazer de fluírem sem censura.

O campo habitado é vasto e delicioso de percalços.
O chão é real, às vezes machuca-lhes os pés.
Mas dão momentos impagáveis,
tensos de desejos há muito despertos.

Feras gentis e travessas,
chegam a ser cativas quando lhes é necessário.
O senhor é condutor, em uma dança cuja coreografia
custou a ser ajustada.
Dançam eles com cumplicidade.

E eles se entendem.
Quando os bichos ensaiam um torpe descontrole,
o condutor assume.
Cada um com sua delícia.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

É melhor ser governado pela medula do que pelo cérebro.

" É melhor ser governado pela medula do que pelo cérebro".

Esta frase (pensamento, mandamento ou sei lá o quê ) que data de 2000 veio à minha cabeça hoje. Dei de cara com este petardo de maluquice biológica-estudantil num quadro de giz, em um corredor da Uerj. Marcou-me. O autor era um lindo futuro biólogo, com cabelos longos, olhos que pareciam prontos a devorar com ternura e dono de uma das risadas mais insanas que já ouvi. E fora que achei a frase o máximo!
Mas, pensando hoje, vejo que é um tanto radical e até perigosa. Na verdade, acho que toda ação pode ter natureza inesperada: às vezes é uma questão medular, de reflexo; às vezes é uma questão de pensar sim, de ação do sujeito comandante do SNC!
A vida até pode ser encarada como uma locomotiva guiada pelo desejo louco e desenfreado. Em algumas situações, tal caráter é o que lhe cabe. No entanto, quando a locomotiva começa a se tornar um monstro sem controle, que te bate na cara porque você assim deixou, é hora de o veículo ter movimentos mais pensados e cuidados. Mas tais movimentos não precisam ser plastificados; a perda de naturalidade é a pior morte para qualquer coisa que se movimente.
Se eu encontrasse o autor da frase que desencadeou estas elocubrações, diria a ele minha carinhosa versão de sua criação: "É tão bom ser governado pela medula quanto pelo cérebro".
Onde será que anda o Pedro?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Total

Moça florida no Jardim Alvorada.
Coincidência amada.

Transbordamos, rimos e rimamos.
Inteligente amando.

As palavras se arrumam em uma maravilhosa
super-sinceridade.
Ame quem amar!

Virtualidade Brasil-EUA-sol-frio danado!
Para lá partiu e amou, amou.
Voltou amando mais e...
Vai florir ainda mais o mundo!

Linda menininha que vai chegar.
Desde sempre vejo
todo o amor a te esperar.
Pois virás dela:
Amada, sempre Amando,
Sempre Amanda.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Muquira!!

Às vezes, carrancudo.
Outras, gentil.
Já me meteu pavor.
Agora, até me faz rir.
Riso sem-graça, riso amarelo,
Riso estranho. Riso franco.

Ele me irrita, surpreende e
até ensina. Com o queixo e com o peito.
Fala pra dentro, fala pra fora.
É incisivo e evasivo, em uma bizarra proporção.
Sarcasticamente desconcertante.
Como tratar? No answer. Just do it.

Caímos no mesmo ofício.
Duplamente.
Vida e lição.
Hiato de anos.

Já teve embate. Desfazemos.
Deixemos em paz nossos pelos e penas!

No fundo, apesar dos engasgos, gosto dele.
Figura muquirana que me viciou:
"Gimme, gimme, gimme the honky tonk blues!"


"Nothing in Biology makes sense except in the light of Evolution."

(Theodozious Dobhzansky)




*** Simples assim. E fim de papo.

domingo, 8 de março de 2009

X

Há cerca de 29 anos, recebi um presente de J.F.: um cromossomo X! Ah... Era um começo de uma deliciosa jornada. Menina. Garota. Mulher.

Mas ser mulher neste século meio estranho dá umas crisezinhas, umas confusões. Algumas piram: umas viram mulherzinhas infelizes e aprisionadas num calabouço de regras e normas de boa-conduta; outras, viram predadoras infelizes e aprisionadas num calabouço de regras e normas de boa-conduta. Que irônico, né? De qualquer forma, sempre há uma camisa-de-força.

No entanto, há aquelas que são simplesmente mulheres. E isso, por mais óbvio, clichê e redundante que possa parecer, exige peito! Sei que é muito chato posar de vítima, alegoria que não devemos vestir nem aceitar que nos vistam, mas é necessário colocar as coisas em baixela limpa. Agir como fêmea da espécie humana, esta espécie tão esquisita, não é das coisas mais triviais. Fantasmas como o medo de ser maltratada, corna e empregada como a avó e de ser mal-falada como as mulheres que ousam ouvir a voz do desejo e falar com todas as letras o que querem sempre, andam de mãos dadas.
Nessa ciranda de medos, aflições e cuidados extremos pretensamente essenciais à vida de uma mulher que mereça respeito e um relacionamento estável, erramos a mão.Resultado: deixamos de atentar para características que, no final das contas, foram de vital importância para a evolução do homem: a intuição, a força (carregar, parir e amamentar uma pessoa não é uma tarefa das mais fáceis), a doçura...

E ser mulher vai mais além do que ser mulherzinha ou predadora: é assumir e bancar o que quer. É isso que algumas descobrem aos 30, outras aos 45, e muitas nunca descobrem. Deixá-lo escolher o local de um chopinho é legal, enquanto você se arruma para ele te pegar em casa. Cozinhar para ele é bom; depois vocês arrumam a cozinha juntos. Dar vazão ao tesão quando der na telha - no primeiro momento ou depois de um mês é uma delícia, desde que haja respeito e amizade genuínos. Isso tudo faz parte de uma dança, na qual homem e MULHER acabam se entendendo. É claro que durante os passos iniciais, alguém pisa no pé do outro - encontramos porcos chauvinistas, filhinhos de mamãe mal-criados, moralistas disfarçados de homem-sem-preconceitos (de longe, este é o pior tipo)... Mas quando assumimos nossa condição de indivíduos dotados de um par de seios que alimentam, de quadris que enlouquecem e de cérebros que produzem maravilhas, conseguiremos encarar este mundo que alguns equivocados chamam de "masculino". Sejamos simplesmente mulheres, estes seres encantadores por terem TPM, e ainda conseguirem dirigir ônibus, ensinar, escrever livros e realizar complexas cirurgias. Azar de quem interpretar mal. Azar de quem confundir as coisas. Azar de quem não quiser conhecer além das curvas apreciadas em uma noite. Eu sou mulher sim; e ninguém me tira este prazer.

Bendita seja aquela noite de inverno, em um certo 1980...

Jade


Constituição comovente e delicada.
Unhas que fazem estrago
e roçam delicadamente a tez.

Gosta dos meus braços e
de minha mão em seu queixo.
Regozijo de felicidade.

Sorriso sincero, dengos e caprichos.
Sua companhia não lhe basta.
Um gemido e rendição toda.

Tem uns olhos inacreditáveis.
Face esculpida.

Os pelos pululam,
entrando sem cerimonia alguma.
Na minha cama e no meu coração
também entraram sem avisar.

Manhã, tarde, noite,
madrugada com ela - esfinge gentil
e inocente.

Linda como a pedra.
Lânguida como uma onda.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Onibio

Ela me pegou de jeito.
Foi de um arroubo imenso.
Quando vejo sujeito feito
chorar por ela, preciso de lenço.

Acho que é paixão antiga.
Agora, ela quer escapar fugida.
Toda hora chamo
e vem a bendita.

Ganhei um canudinho no Esqueleto.
E ela, caprichosa, ficou com ciúme.
Mas em todos os lugares ela revida
e esplendorosa toma o seu lugar:
toda a minha vida!

Pode ser agora?

Não há motivo, mas há perigo.
Uma vida breve...
escassos momentos alegres.
A voz semore fala e sem medo declara:
"Acabará cedo, acabará rápido."

Mas outra via me mostra
que as pessoas têm importância.
Um sopro vive na esperança morta,
apesar da fúria que tem ganância.

E o motivo surge.
Uma fenda maior do que o
maior se abre.
A solução não é bem sábia,
a despeito de sua grande lábia.
Tem as cores da Mangueira.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Olha essa

Na semana passada, minha amiga Marcinha me chamou atenção para a origem da palavra AMORAL. E como eu já gosto da etiologia dos nossos vocábulos...

"Sabe de onde vem a palavra AMORAL?", perguntou-me. "É o que não tem moral?", respondi. E ela me olhou como se falasse: "Hum, escuta essa!".

O AMORAL abriga uma palavra que sequer me ocorreu; abriga o AMOR.
E... O AMOR (em todas as suas formas) é realmente uma força, uma devastação, é transformador e não tem regras que o controlem. Ele dói, arrepia, faz rir, faz chorar. Não faz cerimônia e dispensa explicação. Não tem moral nenhuma!!!

Em suma: AMORAL é o AMOR; o AMOR é absurdamente AMORAL.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Biriri

Tinha lindos olhos dourados
E grossos pés inchados.
Pinga, sua musa.
E sapatos? Diziam: "Não usa!"

Alguns poucos amigos.
Talvez encontros furtivos.
Na vida simples de Vassouras,
entre tantas lavouras.

Dona Chica o acolhia com prosa,
quando ela não tava numa birosca.
Roupa velha não serve mais.
Mais frio, jamais.

Sua casa, um saco cheio de vida.
Pronto para qualquer ora,
qualquer partida.

E assim, ele partiu.
Deixou sua musa, que antes o matou.
Por onde anda, ninguém sabe;
ninguém viu.
Mas em algum lugar, ele acordou.
Com seus lindos olhos dourados.
Os pés amputados.
O fígado acabado.
E o sossego encontrado.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Ciclo

Ovulo.
Evoluo.
Não engulo.

Desejo.
Vejo.
Deixo?

Chuto.
Fumo.
Sigo o rumo.

Modifico.
Codifico.
E arrisco.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Carlos Drummond de Andrade


* Humildemente opinando, esta jóia de C.D.A. sempre pareceu-me a estouro do "cair da ficha" pelo qual muitos de nós já passamos, estamos passando ou passaremos. Mas não um "cair de ficha" com amargura e resignação cegas, e sim com a clareza serena de quem já sonhou loucamente e hoje sonha - talvez com menos fervor e paixão, mas não com menos esperança.

E, sinceramente, desejo que cuidemos melhor do nosso presente, que se renova em cada inspiração e expiração; em cada criança concebida; em cada desabrochar de flor; em cada momento em que dizemos - sem temer o ridículo e a demonstração de fraqueza - o quanto gostamos de quem nos é querido... Pois, como disse certa vez minha amiga literata-paulistana-carioca Carla Lapenda, "a vida não tem ensaio".

Já chegou 2009; vamos de Mãos Dadas?