sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Carlos Drummond de Andrade


* Humildemente opinando, esta jóia de C.D.A. sempre pareceu-me a estouro do "cair da ficha" pelo qual muitos de nós já passamos, estamos passando ou passaremos. Mas não um "cair de ficha" com amargura e resignação cegas, e sim com a clareza serena de quem já sonhou loucamente e hoje sonha - talvez com menos fervor e paixão, mas não com menos esperança.

E, sinceramente, desejo que cuidemos melhor do nosso presente, que se renova em cada inspiração e expiração; em cada criança concebida; em cada desabrochar de flor; em cada momento em que dizemos - sem temer o ridículo e a demonstração de fraqueza - o quanto gostamos de quem nos é querido... Pois, como disse certa vez minha amiga literata-paulistana-carioca Carla Lapenda, "a vida não tem ensaio".

Já chegou 2009; vamos de Mãos Dadas?

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