sábado, 31 de outubro de 2009

Se Não Somos

Se fôssemos amigos,
conversaríamos mais
decentemente,
visualmente.

Se fôssemos amantes,
deleitar-nos-íamos mais
com nossas peles
e mentes.

Se fôssemos amigos,
ouvir-nos-íamos mais,
aprendendo a dividir
e unir.

Se fôssemos amantes,
eu poderia sentir sua voz
não só nos meus ouvidos,
mas também em minhas
lembranças.

Se fôssemos amigos
dividiríamos umas cervejas.
Filaríamos cigarro
um do outro.

Se fôssemos amantes,
ousaria ansiar por
sua presença,
deixando o desejo livre para
nascer, crescer e ser saciado.

Se fôssemos amigos,
conversar sobre nossos amantes
queridos
não seria tabu e invasivo.

Se fôssemos amantes,
as palavras sacanas
de nossas mensagens instantâneas
ganhariam vida própria;
não ficariam escondidas sob a
frieza de uma tela.

Se fôssemos amigos,
eu poderia te ligar
para falar coisas sem sentido,
para te dar um OLÁ
e escutar um “tudo bem?”

Se fôssemos amantes,
você não colocaria as
paranóias de
homem-decente-que-quer-mas-
-não-pode-me-desejar.

Se fôssemos amigos,
seríamos mais sinceros
um com o outro.
Não teríamos medo de expor
o que sentimos.

Se fôssemos amantes
palpitaríamos de fato e
não haveria os demasiados
“eu faria” e “eu colocaria”.

É...
Não somos amigos.
Não somos amantes.
Somos um par de conhecidos
que foram colocados
estranhamente
em um mesmo
quarteirão.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Volver

Demoro uma semana para escrever sobre Mercedes Sosa. Estou ouvindo-a, cantando "Che Guevara". Suas músicas - muitas poesias cantadas, a bem da verdade - sempre exerceram uma força estranha em mim, uma sensação de pertencimento a algo que não entendia. Conheci sua voz muito cedo.

Sinto, desde que me lembro como ouvinte, uma gostosa identificação com a interpretação e as temáticas presentes no cancioneiro de Mercedes, ainda mais sendo filha de uma pessoa inacreditável que é J.F. Sem querer, sem forçar e sem doutrinar, era um tal de ouvir Mercedes cantando, de aprender a conhecer nossa América... “Conversemos sobre o que é ser socialista...” Uma delícia.

É por isso que os meus olhos marejam quando escuto La Negra cantando sobre o encantamento de Violeta Parra com os estudantes de tempos agora distantes. Tá. Pode parecer uma tremenda pieguice, mas é como se, de alguma forma este encantamento me invadisse também. Assim como o prazer de escutar uma argentina, em uma língua que me desperta enorme carinho, cantar a beleza de voltar a se sentir profundo como um menino diante de Deus (ah, Violeta!). Depois dessa, despeço-me; não sei mais como externar minha emoção diante de tamanha voz e coração. Desde sempre.

sábado, 3 de outubro de 2009

Menino-moço-homem

Sábado de nuvens e amigos.
Metrô de homens, mulheres, crianças, sacolas.

De amarelo eu estava e logo o vi.
Ele também de amarelo.
Misto de menino e homem:
olhos de menino, boca de menino,
pelos de homem.

Olhos enormes e castanhos
que devoram-me gentilmente.
Buscam-me a cada movimento que faço.
Sorriem-me.

Zona sul, Centro...
Destinos diferentes.
Poucos e suficientes minutos.
Apaixonei-me?