Vem da força dos rios,
os que nos parecem calmos em nossa breve vida,
mas que escavam, penetram e esculpem as serras imponentes.
Rio Paraíba, o do Sul.
"Mar de morros"...
Como pode uma alcunha juntar
a beleza, a antítese e a magia deste gigante?
Tem o verde, o desnudo, o profundo e o redondo.
Bacias no seu sentido mais íntimo, de ínfimas a extensas depressões.
Filhas dos estragos e rompantes da superfície caprichosa,
quente
e louca
do que chamamos de Terra.
Abriga a vida displicente, a vida que lá cai e a vida que outras criaturas
arrogantes
destemidas
e sofridas
escolheram colocar por lá.
Brotou o café, pisam os bois e fumam as indústrias.
Erodiu, arrasou, mas não findou.
E foram surgindo, resistindo e sentindo:
as roças gentis,
os quilombolas,
as rodas,
as fogueiras,
o barro,
o jongo
e os trilhos antes de passagem, agora destinados à pura contemplação saudosa.
Deu-me a primeira e mais visceral morada, que surgiu das terras da Valença.
E que já com os olhos ativos, me levou a conhecer
em um inverno especial, o último da década.
Deu-me mais e mais estações de registro avermelhado.
Apresentou-me às lamacentas risadas de meus queridos pares,
vindas das madrugadas chuvosas e dos dias de sol rascante.
No reduto da minha mãe de todos,
a música das aves,
o olhar dos bois,
e o frenesi vindo da pocilga, melodia improvável e cortante.
E no meio dele, na Barra Mansa, encontrei
a segunda metade do meu coração
inundado pela ciência.
De cada canto que estou a vê-lo,
seja no conforto de minha avó, no meio de Vassouras
seja da janela da estrada, passando pelos Areais, Pinheirais e tantas outras copas,
seja de perto, sentindo, pisando e descrevendo Bananal,
seja numa roda de jongo em Piquete,
seja nas lembranças da pequenice, vindas da Barra do Piraí e de Pindamonhangaba,
o peito aperta, de aperto bom.
Os olhos sempre apaixonados, como os de uma primeira vez, só falam:
"Ah, Vale do Paraíba... Em você eu nasço, descubro e amo!"